A internet anda agitada com a presença da ONG denominada
“Escolas sem partido” (http://www.escolasempartido.org/), mas o que chama a
atenção é que as “escolas com partido” nunca provocaram reação na mídia. Esta
dúzia e meia de professores “revolucionários” promovem verdadeiras doutrinações
nas escolas, mas não aceitam ser desmascarados ou contestados. Pregam
“aceitação das diferenças”, “respeito às opções individuais” e tantos outros
chavões em moda, mas não toleram uma voz que lhes questione.
É importante restabelecer alguns princípios hoje esquecidos,
mas que são fundamentais para a educação de nossos jovens. A tentativa
esquerdista é de transferir a educação dos jovens para o controle do Estado,
como propõe Moacri Gadotti:
Todavia, o traço mais original da educação desse século é o
deslocamento de enfoque do individual para
o social, para o político e para o ideológico (grifo nosso). A pedagogia
institucional é um exemplo disso. A experiência de mais de meio século de
educação nos países socialistas também o testemunha. A educação, no século XX,
tornou-se permanente e social. (GADOTTI: 2000.
p. 4)
Como se vê o autor coloca como modelo a educação nos países
socialistas, sem esclarecer o que entende por “países socialistas”, seria os
que seguem o “socialismo de estado”, ou os que seguem os postulados do “marxismo-leninismo.
Esta visão de institucionalização da educação é originada nos ensinamentos de
Paulo Freire (1921-1997) e continuados por Moacir Gadotti (1921 - ), porém a
origem desta militância está em Karl Marx (1818-1865) e Gramsci (1891-1937). É
a visão marxista que domina soberana em nossas escolas e que se revolta quando
confrontada com posturas mais conservadoras.
Alguns militantes apressados estão imaginando interferência
nas decisões pedagógicas dos professores. Nada mais enganoso. O que o movimento
quer é a não interferência na formação do aluno. Não se pode confundir
"formação crítica" com doutrinação. O aluno não pode ser avaliado
pela concordância à ideologia do professor. O professor pode ter o
posicionamento que julgar melhor, mas não pode impor ao aluno os seus pontos de
vista, muito menos deixar de mostrar alternativas à sua visão. Educa quem
mostra opções de caminhos e não quem indica uma direção.
Há uma confusão entre termos e funções, partindo desta
confusão, alguns aproveitadores surgem e passam a utilizar o termo “educação”
como algo genérico capaz de servir de escudo para a doutrinação. Abaixo vamos
examinar os termos educação, ensino e doutrinação, objetivando deixar mais
clara a prática das escolas na atualidade.
Educação
A educação é um processo entre ensinar e aprender, tem
finalidade social, serve para a manutenção da sociedade. Ela inicia no primeiro
grupo social que é a família, passa pelo grupo da vizinhança e chega à escola. A
educação não cessa aí, o trabalho é um novo ambiente de aprendizagem e assim a
educação se desenvolve ao longo da vida, fornecendo habilidades para um
perfeito ajuste social do indivíduo. Assim como o indivíduo se adapta à
sociedade à qual pertence, ele também influi no grupo, promovendo a sua
integração.
Com este conceito, percebe-se que educação não é
conhecimento, é socialização, é formação de valores. Cabe à família o papel
principal nesta tarefa educativa e é ela que determina os princípios básicos
para a formação da personalidade da criança. Cabe aos demais grupos sociais o
respeito ao que a família construiu e o exercício do convívio num grupo mais
amplo. Neste sentido, a escola é o ambiente de adaptação da criança numa nova
realidade, mantendo os valores que ela traz de casa e estimulando novas formas
de convívio.
Ensino
O ensino é uma atividade sistemática de transmissão de
conhecimentos. É o ambiente primordial da escola e sua função específica. A
escola ensina e, de forma complementar, educa. Aqui está o problema maior do
nosso sistema educacional. A escola assumiu o papel de educar e abandonou o de
ensinar, por esta razão as crianças deixam de aprender conteúdos importantes
para se dedicarem, por longo tempo, a atividades de socialização. O equilíbrio
entre educar e ensinar é o que as nossas escolas perderam. Por outro lado, as
famílias estão relegando a função educativa para a escola.
Esta confusão é extremamente prejudicial quando atinge o
processo de avaliação, pois produz duas distorções na formação integral do
aluno. A primeira é quando aprova o aluno, valorizando demais os aspectos de
sociabilidade. Neste caso, a escola promove a valorização do “coitadismo”, ou
seja, aprova por diversas razões que não são conhecimento e, assim, joga no
mercado de trabalho um indivíduo que não terá condições de enfrentar a
concorrência. A segunda é quando não consegue vencer a barreira das lacunas de
educação que o aluno trouxe de casa e deixa de introduzi-lo no mundo do
conhecimento. Cabe à escola a função complementar em termos educacionais,
adaptando a criança ao novo mundo do saber.
A falta de equilíbrio entre educar e ensinar é o maior
problema da educação brasileira. A criança quando vem para a escola, não vem
para aprender o que já conhece, ela necessita de conhecimentos novos. A
reprodução simplória da cultura do educando não é capaz de construir
conhecimento e, muito menos, educação. Hip hop e funk ela exercita diariamente
no seu ambiente social, ela não precisa das “poesias” da Tati Quebra-Barraco,
para desenvolver seu gosto literário. Na recusa do que é estranho demais como
música clássica ou poesia simbolista as professoras não encontraram um meio
termo para trazer para sala de aula. Dizem os pedagogos que o professor não
pode ignorar a cultura que a criança traz de casa, mas também não deveria
permanecer neste patamar. Os pais enviam as crianças para a escola a fim de
“aprender” o que não sabem e não para “repetir” o que lhes é familiar.
Doutrinação
As nossas escolas estão vazias de professores e repletas de
doutrinadores, há um exército militando nas salas de aula, num afã constante
para “mudar a realidade” e para formar “alunos conscientes” e tantos outros
chavões que ouvimos da boca dos pedagogos. O trágico é que ninguém pergunta
pelos conteúdos para atingir esses objetivos. Que conhecimento deve ser passado
à criança para que ela mude a sua realidade?
Muito menos alguém questiona “consciência de quê? A resposta é simples,
não é uma questão de conteúdo (matéria), mas de método (forma).
O foco não é o crescimento do aluno nem a transformação
social, mas a velha proposta marxista de mudança social através da luta de
classes. Marx examinou, com propriedade, os fundamentos da sociedade do século
XIX e concluiu que a transformação social só é possível pela luta entre as
classes. Marx não propõe uma educação para a transformação da sociedade, mas
uma educação para o momento “pós-capitalismo” é, portanto, uma postura utópica.
Como observa Nogueira a postura marxista não contempla um modelo educacional,
deixando o campo aberto e à mercê de qualquer aventureiro que queira impor um
modelo de acordo com seus objetivos.
“Em verdade, nem Marx nem Engels, pelo fato de não terem
produzido um estudo mais analítico abordando especificamente a problemática da
educação em seu todo, se referiram à questão, a não ser através de ideias
esparsas, espalhadas ao longo de toda sua obra, sem a intenção de organizá-las
de modo a constituírem um conjunto coerente e ordenado, em resumo, uma teoria”
(NOGUEIRA: 1990, p. 51)
Em cima desta utopia marxista, os professores tentam
construir metodologias e conteúdos que possam contribuir para mudança (não
transformação) da sociedade. Bem ao estilo de Marx, a realidade deixa de ser
considerada como fruto de um processo histórico, mas encarada como produto da
ação do homem, portanto o homem em luta é que muda a realidade. O indivíduo
desenvolve as suas potencialidades com vistas à sociabilidade, ou seja, a
formação do indivíduo é prevista como um “ajuste” ao interesse do grupo social.
Não interessa a estes professores qualquer projeto de mudança da realidade
local, o importante é o alinhamento com os grandes temas das lutas sociais.
Seguindo este princípio, um clube de ciências, uma horta comunitária, uma
equipe esportiva ou um projeto de leitura são desprezados em favor da discussão
de “temas maiores e urgentes” como “racismo”, “inclusão”, “indianismo”, “luta
campesina” e tantos outros que, embora importantes, se sobrepõem aos interesses
locais. Concluindo, podemos dizer que o objetivo maior desta educação é a luta
que leva ao poder e não à construção social.
Não se pode esquecer que a educação, para Marx, é uma ação
correlata ao trabalho e à luta política. A crítica que ele faz é contra a
“escola capitalista” que prepara profissionais para o mercado, especializando
os indivíduos e, com isto, promovendo o “comércio da mão de obra”. Na visão de
marxista não há saída para a educação dentro de uma sociedade capitalista, por
isso a necessidade de primeiro promover a “luta de classes” e, assim, instituir
uma nova sociedade. Desta maneira, é possível compreender que não há conteúdo,
apenas método. Na visão marxista, a educação é instrumento político como bem
esclarece o ex-presidente Lula ao afirmar no 5º Congresso do PT em Salvador
(12/06/2015) que O Plano Nacional de Educação é “o melhor instrumento político que o PT pode utilizar para trabalhar
nesse momento. ”
Este tema da doutrinação é complexo, mas indispensável para
a compreensão do caos em que se encontra a educação brasileira.
Fontes:
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre, Ed. Artes
Médicas, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9782.pdf
- acesso em maio de 2015.
NOGUEIRA, M.A. Educação, saber,
produção em Marx e Engels. São Paulo: Cortez, 1990.
REBOUL, O. A doutrinação. São
Paulo: Universidade de São Paulo, 1980.
3 comentários:
"Educa quem mostra opções de caminhos e não quem indica uma direção."
Com esta frase do texto concordo e ratifico a síntese do estado atual!
Estamos vivendo em um estado "não" democrático de direito no que tange à educação, pois somos direcionados ao aprendizado político-socialista e não ao aprendizado funcional, o que realmente importa na construção cognitiva do ser!
Excelente texto!
Abraços,
Adriano.
É isto o que acontece. Um abraço e obrigado pelo comentário.
Mas podemos afirmar que isso ocorre em todas as escolas do país, seja na região sul, nas periferias de São Paulo ou em Manaus? Tenho dúvidas disso! Gostaria de ler uma grande pesquisa para comprovarmos essa teoria. O que vejo nas escolas são professores mal preparados e/ou desmotivados, uma progressão continuada promovendo alunos semianalfabetos e um modelo que não acompanha as nossas demandas. Concordo plenamente, professor tem que expor e explicar didaticamente as diferentes ciências que a humanidade produziu, já as tendências políticas e "ideológicas" (indagando também o que é e o que não é ideologia) são particulares, e devem permanecer no campo do privado e não no espaço da educação pública. O homem público é na praça, com as escolhas políticas para o desenvolvimento da democracia, já a escola é o espelho da ciência e de todo pensamento teórico e filosófico que a humanidade produziu. A única preocupação desse processo é o seu resultado, pois bons professores não podem ter seus livros queimados e perseguidos pelo atual contexto histórico.
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